O belo nos faz sentir
Outro dia vi um post que falava sobre pararmos de tirar fotos das coisas belas – como geralmente fazemos em nossas viagens, e nos concentrarmos na emoção que aquela beleza nos proporciona. Achei interessante a reflexão.
A lembrança mais recente que tenho de me emocionar ao ver algo belo em uma viagem foi quando desci do ônibus do tour para o Salar de Tara, no Deserto do Atacama (Chile) em 2005. Me lembro com clareza do que senti, da tamanha beleza daquele lugar, da emoção, do choro, do agradecimento por poder estar ali.
De lá pra cá foram muito momentos que me emocionaram e me fizeram chorar, como a primeira viagem que pude fazer após o lockdown da pandemia, ou quando passei um mês em Barra Grande (Bahia), meu lugar favorito neste nosso país lindo, e agora mais recentemente em Paris. Ver a alegria e emoção das pessoas por estarem na capital francesa me cativou. O sorriso dos casais ,das famílias, do grupos de amigos por estarem turistando por ali foi lindo dever.
Para além disso, porém, me emocionei profundamente quando visitei a livraria Shakespeare & CO, pertinho de onde me hospedei no Quartier Latin. Eu amo livrarias e ao conhecer a história dessa, em particular, me emocionei. Passei horas neste lugar e ao me dirigir para o segundo andar fui atravessada por essa frase na parede ao lado da escada: “ Abra a porta, abra os livros, abra a cabeça e abra o coração”. Que intenso, lindo, real e necessário. E claro, eu quis fotografar, mas, não era permitido, então anotei! Já repleta de emoção em meu corpinho, no segundo andar da livraria havia um cenário mágico, livros, cartazes explicando como tudo ali começou (em 1920 com Sylvia Beach, que além de livros, abrigava jovens escritores de língua inglesa), uma mesa de escrivaninha com uma antiga máquina de escrever, mais muitos livros e uma janela que mais parecia um quadro, com vista para o rio Sena e aquelas árvores floridas lindas. Quando olhei mais atentamente para a janela, vi, de verdade, a beleza da catedral de Notre-Dame, pela qual já havia passado duas ou três vezes durante minhas andanças em Paris e tirado fotos que não foram capazes de ilustrar sua beleza.
Mas, eu não tinha visto, não tinha me emocionado, não tinha parado para pensar no que aquela beleza representava para mim, como pude fazer sentada ali perto daquela janela na livraria.
Nossos sentidos são a forma que temos para nos manter presentes. Porém, com toda a loucura que temos vivido, não deixamos tempo para sentir de verdade. Enxergamos sem ver, escutamos sem ouvir, tocamos sem sentir, comemos sem degustar, identificamos um odor sem perceber a sensação que nos causa.
Havia olhada para a catedral construída em 1164 !!! e em restauração após um triste incêndio, mas, não havia sentido, não enxerguei a beleza e a emoção que me causava, me preocupei em tirar a melhor foto.
Dias depois, o universo me deu mais uma chance e então, da janela daquela livraria cheia de história que teve o poder de me manter presente, atenta àquele momento, pude ver e sentir toda a excepcional beleza da catedral.